XXVIII Congresso ALAS “Fronteiras Abertas da América Latina”
Recife, campus da Universidade Federal de Pernambuco,
entre os dias 11 e 16 de setembro de 2011.
http://www.alas2011recife.com/
No ano de 2011 a ALAS completa 60 anos de existência na renovação
contínua de seus congressos. Nesta trajetória, constituiu-se numa
referência importante para o pensamento crítico latino-americano e
continua a sê-lo no momento presente. Neste século XXI, os desafios da
América Latina e do Caribe na organização de um planeta mais equitativo,
justo e plural vêm se ampliando, colocando-nos novos desafios.
A crise global vem obrigando a América Latina a renovar sua
compreensão sobre si mesma e sobre o mundo, sobretudo quando ela passa a
ser vista pelas forças progressistas, em nível mundial, como um lócus
renovador, por excelência, dos movimentos sociais, políticos, culturais e
intelectuais. Também, a América Latina é fonte de recursos naturais e
ambientais fundamentais para a sobrevivência da espécie humana, o que é
decisivo em uma conjuntura mundial de escassez de alimentos e fontes
energéticas. Nesta mesma direção, é de se ressaltar que o português e o
espanhol constituem em conjunto as bases de uma importante comunidade
lingüística que ancora parte significativa da produção cultural mundial.
A percepção do significado da América Latina nas atuais
reconfigurações do mapa mundial é tarefa que urge e chama à reflexão
esta comunidade de sociólogos ao lhes propor revisões de seus
paradigmas, reconhecidos, enfim, como tendo se pautado em binarismos que
pouco ajudam à compreensão dos processos híbridos, das liminaridades,
das tensões, das fronteiras, das criações que têm seu lugar num
continente que não se explica unicamente por meio dos manuais
secularmente consagrados. A nós é exigido o esforço hercúleo de
legitimar narrativas ainda inéditas sobre nós mesmos.
Ora, ainda há muito que se fazer para nos percebermos como “nós”,
latinos, e favorecer a ampliação do leque de atores e pesquisadores que
interrogam a América Latina. Há desafios importantes para se avançar
numa práxis teórica renovadora que articule o pensamento e a ação, que
coordene as instituições sociais, políticas, culturais, artísticas,
econômicas e jurídicas com vistas à produção de um pensamento
democrático e plural contemplando o local, o nacional, o pós-nacional,
transnacional e suas metamorfoses. Entre as áreas a serem incorporadas
ao pensamento latino-americano há de se ressaltar os estudos sobre as
regiões da América Latina que permanecem ainda não suficientemente
discutidas, a exemplo do norte e o nordeste da América do Sul, entre
outras. Essas regiões são palco de profundas transformações
sócio-econômicas, culturais e ambientais que têm impacto sobre o
conjunto da América Latina, e, igualmente, de importantes mobilizações
políticas e intelectuais voltadas para questionar em profundidade as
raízes das desigualdades e injustiças sociais em planos diversos:
étnico, econômico, de gênero, geracional e religioso. Há de se
interrogar e contrapor, pois, com certa urgência, os vários campos de
saberes e experiências liberadoras que ocorrem dentro e fora dessas
regiões.
Nesta linha de reflexão, a escolha da cidade do Recife para a
realização do XXVIII Congresso ALAS “Fronteiras Abertas da América
Latina”, em 2011, tem uma importância simbólica e estratégica
particular. Recife é uma importante metrópole histórica e econômica
cujas origens remontam aos primeiros séculos da colonização ibérica,
mantendo-se, até hoje, como importante centro cultural e intelectual.
Entre os principais intelectuais e homens de ação que aqui desenvolveram
parte significativa de suas obras estão Abreu e Lima, Joaquim Nabuco,
Gilberto Freyre, Josué de Castro, Paulo Freire, Celso Furtado, Dom
Helder Câmara e Miguel Arraes. Do ponto de vista geopolítico, a
localização da cidade do Recife possibilita-nos articular as diversas
cidades do norte e nordeste brasileiro, desde Manaus até Salvador, que
guardam as memórias da colonização e da luta anticolonial. As lutas e
mobilizações que ocorrem nessas áreas não se restringem a suas
delimitações geográficas, mas se conectam com outras regiões do
continente latinoamericano. A questão amazônica, para tomar o exemplo de
uma das grandes regiões latino-americanas, não é apenas brasileira, do
mesmo modo que a questão ambiental do nordeste não toca apenas os
estados desta região. As desigualdades sociais, os desequilíbrios
ecológicos, a fome e a miséria assim como a presença dos movimentos
sociais que combatem este estado de precariedade, refletem situações
mais amplas que concernem cada país e cada região da América Latina e do
Caribe. Nesse sentido, a idéia de FRONTEIRAS ABERTAS como palavra-chave
da ALAS 2011 justifica-se pela importância de se colocar como pauta de
pesquisa e debate público atores, práticas, instituições e saberes que
evidenciam os limites dos nossos modelos analíticos.
O propósito do ALAS 2011 é de consolidar os esforços de articulações
realizados em Buenos Aires, Guadalajara, Porto Alegre, Arequipa,
Antígua, São Paulo e demais encontros anteriores, ampliando a construção
do pensamento crítico latino-americano. Neste sentido, há que se
favorecer parcerias e cooperações entre países e regiões nas quais vêm
se desenvolvendo novos saberes e práticas implicados com a construção
democrática numa gramática moral cujo “bem viver”, de diversos, se
traduz no alcance de metas coletivas em torno da dignidade humana.
O contexto de grandes mudanças geradas pela crise global e a organização
de experiências marcadas pela reação anti-neoliberal contribuem para a
reflexão sobre os modelos de desenvolvimento em termos culturais,
políticos, econômicos da América Latina e sobre os modos de cooperação
igualitária com outros blocos continentais, no diálogo Sul-Sul, atento a
tais questões, o XXVIII Congresso ALAS “Fronteiras Abertas da América
Latina” propõe cinco temas centrais, a saber:
· Memórias, entre o passado e o futuro.
· Políticas públicas e identidades, entre as singularidades e as universalidades.
· Modernidades alternativas: política, cultura e sociedade na América Latina, África e Ásia.
· Disciplinaridades dialógicas, entre o humanismo reflexivo e a variedade epistemológica e técnica.
· Amazônia e ecossistemas, entre a depredação econômica e a sustentabilidade planetária.